InstitutoVOX

História e Fundamentação do Instituto Vox

Por Mauro Mendes Dias

O Instituto Vox de Pesquisa e Formação em Psicanálise foi fundado em 29 de março de 2014 e tem como objetivo sustentar a implicação dos três termos presentes em seu nome: instituto, vox e pesquisa.

O termo instituto, na história da psicanálise, ganha expressão por meio do compromisso assumido com a formação do psicanalista. Pela tradição, encontramos o lugar do ensino referenciado pelo instituto enquanto um espaço a partir do qual se organizam diferentes articulações com as matérias da formação de um psicanalista. No Instituto Vox, a concepção de formação continuada se sustenta pela colocação em exercício de um projeto no qual psicanalistas e demais interessados pela Psicanálise possam compartilhar um trabalho que se renova pela retomada de seus fundamentos, visando promover elaborações orientadas pelos textos de Sigmund Freud e Jacques Lacan e deles extrair consequências para nossa prática e ética clínica. Tal orientação inclui a necessidade de reservar um espaço para aqueles que se declaram como Analistas praticantes, oferecendo material e escuta para o debate clínico.

O termo vox (voz) introduz um elemento íntimo, familiar e, ao mesmo tempo, estranho. Haveria algo mais familiar do que a própria voz? Não por acaso autores que pesquisam o tema o consideram como sinônimo de identidade do sujeito. Entretanto, o estranho se presentifica no exato momento em que percebemos falar com uma voz diferente da habitual e desconhecemos a causa de tal reviravolta. Por último, haveria algo tão mais íntimo quanto as vozes que escutamos a partir de nossos pensamentos, de nossas autocríticas, reprovações e comandos? O termo em latim vox, portanto, faz constar no nome do instituto o traço que lhe é mais constitutivo, ou seja, o acolhimento daquilo que vem do Outro. Nesse sentido, a nomeação vox revela o funcionamento de um projeto comprometido com o exterior, incluindo-o. Trata-se, portanto, de reconhecer pelo exterior a extimidade da voz, experimentando-a.

O termo pesquisa implica o reconhecimento de uma posição do sujeito com o saber e a curiosidade. Trata-se sempre de uma busca, de uma inquietação e tentativa de descoberta presentes desde as primeiras investigações da alquimia. É certo que a Universidade ocupa hoje, e de forma emblemática, o ponto de convergência onde se realizam diferentes pesquisas em psicanálise por meio do saber. Entretanto, fora do contexto acadêmico, o Vox declara-se “Instituto de Pesquisa”, pois pretende sustentar entre seus membros e participantes uma contínua posição investigativa, adotada por Lacan e traduzida por ele com duas marcantes afirmativas. No Seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964), fazendo referência a uma célebre afirmação de Picasso, Lacan declara a respeito de seu ensino: “eu não procuro, acho”. Posteriormente, em seu último seminário, O Momento de concluir (1977), Lacan irá inverter sua assertiva anterior, anunciando: “eu não acho, procuro”.

A partir deste lugar de contínua investigação, o sentido do termo “pesquisa” no Instituto Vox se revela pela entrada em cena da causação inconsciente. Tal causação rigorosa é movida pela inclusão dos impasses, dos fracassos, das mudanças, dos imprevistos e do despertar, todos eles entendidos como diferentes nomes das condições do desejo.

O lugar da voz no Instituto Vox

O tema da voz foi introduzido no Instituto Vox primeiramente a partir do já referido seminário apresentado por Mauro Mendes Dias, que impulsionou a elaboração de uma série de trabalhos apresentados na terceira jornada de psicanálise e cuja compilação deu origem ao livro A voz na experiência psicanalítica, organizado por Mauro Mendes Dias, publicado pela Ed. Zagodoni em 2015. Outras duas jornadas já haviam acontecido, a primeira sobre a problemática da folie à deux na relação mãe-filha e outra sobre a questão da internação nas psicoses.

O tema da voz também foi destacado pela experiência de apresentação de pacientes, na qual muitos sujeitos que eram entrevistados contavam que ouviam vozes ao mesmo tempo em que procuravam incluir o apresentador nelas, frequentemente pela telepatia. Ao acompanhar as elaborações de Lacan sobre as alucinações auditivas verbais, o tema da voz pode ser articulado e levado adiante, reconhecendo também e desde sempre o lugar diferenciado conferido por Freud tanto a voz quanto às vozes. Na continuidade do tema foram incluídas as elaborações sobre a voz realizadas pelos psicanalistas Alain Didier-Weill, Jean Michel Vivès, Jean Claude Maleval e Michel Poizat, entre outros.

É certo que a referência aos autores citados, precedidos por Freud e Lacan, permitiu avançar as investigações na direção a diferentes questões, investigações essas disponíveis ao público no site do Instituto Vox. Indicar e sustentar enlaçamentos possíveis através da voz na experiência psicanalítica declara um projeto de retorno a cada um dos Seminários de Lacan, assim como aos textos contidos nos Escritos, com o objetivo de buscar as incidências do tema e de acompanhar as elaborações do psicanalista ao longo de sua obra, bem como as diferentes possibilidades de articulação. Assim, o lugar de destaque dado a voz implica o compromisso de realizar um mapeamento do conceito dentro da obra de Lacan, entendendo-o como um operador chave para a clínica psicanalítica. Nesse sentido, a Voz no Instituto Vox cumpre a função de sustentar laços de trabalho entre aqueles que a reconhecem como causa de sua práxis.

Contar-se quatro, voz e Vox

Considerando que a questão da voz, no Instituto Vox, veio marcada desde o início pela presença daqueles que deram seguimento às elaborações de Freud e Lacan, foi estabelecida uma parceria de trabalho envolvendo quatro espaços institucionais de transmissão da psicanálise: a Insistance com sede em Paris, o Corpo Freudiano do Rio de Janeiro, a Après-coup, sediada em Nova York, e o Instituto Vox, em São Paulo. O início dessa parceria foi estabelecido em reunião realizada no dia 05 de novembro de 2015 em São Paulo. Por iniciativa de Paolo Lollo, atual diretor da Insistance e autor da proposta, firmou-se um projeto de trabalho compartilhado, que tem como título “Humana”. Deve-se notar que a escrita diferenciada da letra a faz constar na experiência humana a causa do desejo, tal como foi inscrita por Jacques Lacan, pelo objeto causa de desejo.

A primeira iniciativa desse projeto teve lugar nos dias 09 e 12 de maio de 2016, em Paris. No dia 09 de maio foi realizada uma discussão sobre o texto “Contar-se quatro, pela experiência do passe”, de Mauro Mendes Dias, disponível na Biblioteca Virtual, no âmbito de um seminário coletivo realizado na sede da Insistance. No dia 12 de maio desse mesmo ano foi realizada uma mesa redonda, no âmbito do “Colóquio sobre Democracia e Psicanálise”, onde foi apresentado o texto “O ódio da democracia”, disponível na Biblioteca Virtual.

Fundamentos da diversidade no Instituto Vox: exterior e interior.

Um projeto de formação continuada que não privilegie ensino suposto adequado de ser seguido pelos interessados na psicanálise se depara com as limitações dessa decisão. Dessa forma, constroem-se relações de diversidade nas quais a escuta é sinônima de reconhecimento daqueles que são próximos como membros e externos como parceiros; que a crítica a eles e a nós venha a servir de fundamento ao que se espera de uma comunidade voltada aos problemas que a psicanálise suscita. Trazer ao interior o exterior, convidando parceiros e pessoas externas ao instituto, é um dos fundamentos que norteia o projeto.

Dos parceiros e parcerias

Para além da articulação institucional entre o contar-se quatro, desde sua fundação o Instituto Vox conta com parceiros que deram contribuições efetivas para questões a que foram convidados a debater. É certo que o trabalho em colaboração avança para além da presença dos convidados para falar dos temas indicados. Estes laços parceiros dão origem a uma série de iniciativas de trabalho, que são levadas a público por meio de diferentes tipos de eventos. Assim, promovemos o circuito de debates nomeado “Ciclo Trauma e Política”, que contou com a presença de diferentes psicanalistas e nos permitiu acompanhar variados trabalhos construídos em torno dessa temática e realizados em outros serviços de atendimento. O Instituto Vox também produziu a montagem da peça de teatro “Freud/Einstein: maio de 1933”, escrita por Alain-Didier Weill, bem como uma mesa redonda promovendo o debate sobre o DSM_V, que reuniu representantes de diferentes áreas (filosofia, psicanálise e psiquiatria). O registro dessas atividades está disponível na íntegra no Instituto Vox TV e a produção bibliográfica delas decorrente, na Biblioteca Virtual.

Por fim, o Instituto Vox é uma aposta em um projeto. O que significa que a experiência de sua prática pode ser modificada, a partir daqueles que se dedicam a ele.

Política Organizacional

Declaramos que o funcionamento institucional do Vox, todas as decisões, as definições de atividades, as normas e bem como as alterações necessárias ao longo do processo são tratadas por um Conselho Deliberativo que é composto por todos aqueles(as) membros que exercem função de coordenar uma das atividades no Vox. O Instituto adota uma política de rotatividade nas coordenações de suas atividades cuja duração média é de um a dois anos, a depender da atividade. Portanto, a composição do Conselho Deliberativo varia, ano a ano, acomodando a troca de coordenadores das atividades. O Conselho realiza semestralmente uma reunião para avaliação e alinhamento da dinâmica das atividades em curso.

Todas e quaisquer iniciativas do Vox, ainda que em fase de elaboração, são primeiramente discutidas pelo Conselho em termos de viabilidade. Não há realização de atividade suplementar que não seja precedida por um estudo de viabilidade de seus custos, tanto em termos de trabalho, de produção, quanto financeiros.

Confira nossa política de Organização Institucional.

Quero ser membro

Ingressam no Instituto Vox no máximo 6 pessoas por ano, não havendo, por parte do Instituto, qualquer obrigatoriedade de preencher essas 6 vagas. O Conselho Deliberativo avalia, anualmente, em reunião geralmente realizada no mês de janeiro, todos os pedidos recebidos dos interessados em se tornarem membros do Instituto.

Ingressam no Instituto Vox no máximo 6 pessoas por ano, não havendo, por parte do Instituto, qualquer obrigatoriedade de preencher essas 6 vagas. O Conselho Deliberativo avalia, anualmente, em reunião geralmente realizada no mês de janeiro, todos os pedidos recebidos dos interessados em se tornarem membros do Instituto.

Seu e-mail será recebido pela secretaria e será encaminhado para o membro do Conselho responsável pelo acolhimento dos interessados. Este membro do Conselho entrará em contato com você, explicando os passos para dar prosseguimento ao pedido de entrada. Neste primeiro contato, outras informações serão solicitadas. Todo candidato irá receber os textos que se referem aos estatutos da formação no Vox, sendo imprescindível a todo interessado a leitura destes documentos. Os interessados em ingressar no Instituto Vox devem estar atentos às seguintes informações:

  • Informe-se sobre o valor vigente da mensalidade ao entrar em contato conosco. O boleto bancário de cobrança da mensalidade é enviado por e-mail e o não pagamento gera juros e multa adicional. Após duas notificações consecutivas e acumuladas de atraso, inviabiliza-se a entrada e a participação nas atividades. A mensalidade está sujeita a correções, oportunamente informadas.
  • Atividade obrigatória a todos os membros: Seminário de Jacques Lacan, às quartas-feiras, quinzenalmente, das 20h às 22h, no formato de comentário de texto que é pilar central da formação continuada de seus membros. Nesta atividade, a cada ano, um dos seminários da obra de Jacques Lacan é comentado pelo membros do Instituto, lição por lição. Todas as demais atividades teóricas são opcionais. Para saber mais sobre as atividades oferecidas e sobre as formas de inserção no Instituto informe-se nas abas Atividades e Organização Institucional e Modalidades de Inserção.