InstitutoVOX

Participantes:
Maurício Lucchesi – coordenador ([email protected])
Laura de Siqueira Castro ([email protected])
Mauro Armond di Giorgi ([email protected])
 
Datas dos encontros (1o semestre de 2023):
6 e 20 de março
10 e 24 de abril
8 e 22 de maio
5 e 19 de junho
 
Objetivo: Discutir os aspectos clínicos e os manejos psicanalíticos das depressões, bem como os fundamentos metapsicológicos do seu tratamento com substâncias alucinógenas, com base na doutrina lacaniana.
 
Pressupostos: A abordagem do tema terá como enfoque a constituição da subjetividade desejante na dialética com o Outro. Trata-se de dar destaque à posição do sujeito na montagem estrutural da fantasia, a partir do deslocamento que o desejo da mãe impõe à criança. Sob esse aspecto, diferentemente das neuroses, nas quais se vale de um engodo para engendrar a reconquista de uma suposta completude, na depressão o sujeito se abstém de rivalizar ao entrever o desejo do Outro. Há uma desistência antecipada de levar adiante a dialética do desejo, cristalizando uma posição de não ir além. Coincidentemente, essa posição de demissão do sujeito é frequentemente ratificada pelo viés dominante na psiquiatria, que prescinde da dialética do inconsciente. Ao tomar o sintoma de forma imediata, como expressão de um desequilíbrio no humor, tal visão desconsidera o conflito entre a ideia recalcada e seu afeto correlato, assim como a discrepância entre significante e significado. Ao mesmo tempo, as medicações psiquiátricas podem ter o efeito de ajudar o sujeito a falar, configurando uma oportunidade para o reconhecimento da divisão subjetiva e de novas possibilidades associativas, para além das idealizações.

 

Justificativa: A relevância dos quadros de depressão continua sendo propalada pelas agências mundiais de saúde, tendo reflexo na prevalência de diagnósticos e no uso de medicações antidepressivas, cuja presença nos consultórios psicanalíticos é evidente. Nesse contexto, a psiquiatria concorre como expediente de destaque, desde que sua instrumentalização pela farmacologia foi consumada nas últimas décadas. Ainda assim, muitos ensaios clínicos vêm frustrando as expectativas de resultados da chamada “década do cérebro” (anos 1990); e já se admite a revisão do paradigma psicofarmacológico das depressões: o desbalanço na neurotransmissão monoaminérgica – teoria que fomentou a ideia de um déficit a ser corrigido, e incentivou não só as estratégias de reposição química, como também o treinamento e o desenvolvimento de habilidades para readaptar o indivíduo ao seu meio, através das terapias cognitivas e do coaching performático. Alternativamente, substâncias com mecanismos de ação distintos vêm sendo revisitadas nos últimos anos, com destaque para os alucinógenos, cujos efeitos imediatos de desorganização e de dissociação psíquica são vistos por pesquisadores do assunto como um tempo crucial no decurso do tratamento. Nesse sentido, conceitos psicanalíticos vêm sendo aludidos como forma de interpretar os efeitos relatados, considerando o trabalho de elaboração psíquica como parte necessária da intervenção farmacológica. A partir do uso de um alucinógeno, o próprio sujeito tem o ímpeto falar sobre a vivência psicodélica e fazer o relato de sua experiência, valorizando a própria história. Num quadro de depressão, essa atitude de dirigir a fala a um outro recoloca a exterioridade que foi deixada de lado pela recusa ao que vem de fora. Sob transferência, em um contexto psicanalítico, pode-se assim consentir com os efeitos de surpresa causados pela ação do significante, supondo uma via inédita consoante com o desejo de inventar uma outra posição, diversa da crença de recuperar um estado anterior.

 

Texto norteador: Caderno do Seminário “Neuroses e Depressão”, proferido por Mauro Mendes Dias no Instituto de Psiquiatria de Campinas – Hospital Irmãos Penteado, 2003.